quinta-feira, 28 de outubro de 2010

"Rostos da Noticia" Entrevista a Cristina Esteves


Como era a Cristina Esteves enquanto criança?
Dizem que era traquinas, bem disposta e quase sempre a rir.
Lembro-me que parava para ver o Telejornal e dava uma espreitadela a debates. Lembro-me de colocar um copo de água em frente ao meu pai, outro à minha frente, e depois fazia-lhe perguntas...(ele tinha paciência, não há dúvida).

Licenciou-se em Direito. Qual a razão da escolha do curso?
Sempre gostei de Direito e Jornalismo. Na altura de escolher , não tive grandes dúvidas de que Direito seria a melhor opção, acreditei que seria um curso com mais saídas profissionais.Não me arrependi. Quando estava no segundo ano, na FDL, entrei na RTP. Penso que o Direito me ajudou na TV e a TV ajudou-me no curso.

Em 1991 começou a sua na carreira como apresentadora de televisão. Como surgiu esta oportunidade? Qual o programa que apresentou? Acumulou a faculdade com a apresentação?
Em 1991, um anúncio numa revista, que por casualidade a minha mãe tinha comprado, oferecia emprego numa televisão. Não explicitava para que funções. Foi o meu namorado na altura, actualmente o meu marido, que me fez o CV e o enviou no último dia do prazo em correio azul(que tinha surgido então). Tive várias provas. Penso que a primeira que fiz foi determinante. Tinha de falar ou de Tvs privadas (que íam surgir) ou Guerra do Golfo(com o Bush pai). Escolhi a segunda opção e fiz a analogia com a anexação de Timor-leste. Tinha um professor que já nos sensiblizava para a causa maubere(antes do massacre de Santa Cruz).Daí dizer que o Direito me ajudou na carreira e vice-versa.Entrei como locutora de continuidade, depois comecei a apresentar, nomeadamente o "Você Decide".
Acumulei sempre a TV com a faculdade.

Como surgiu a oportunidade de em 1996 enveredar pelo jornalismo? Nesse momento não pensou em seguir uma carreira ligada à advocacia ou à magistratura?
Sempre foi muito claro, que a continuar a trabalhar na televisão, teria que ser no jornalismo.Ter conseguido unir Direito e Jornalismo , nas várias reportagens sobre justiça que fui fazendo, foi a Oportunidade!

Actualmente é pivot do jornal 2 na RTP2 e de alguns noticiários na RTPN. Prefere fazer reportagens e directos ou apresentar os noticiários?
Gosto das duas situações. Acima de tudo gosto de ser jornalista.
Gosto de inquirir, contar histórias.

Um dos programas onde gosto mais de a ver é no "Antena Aberta". Como é ouvir as pessoas em directo e gerir toda aquela conversa?
Na "Antena Aberta" na RTPN ouvimos as opiniões dos telespectadores. Nem sempre é fácil. Ter liberdade de expressão, é poder criticar, mas não é decerto insultar. E, por vezes a fronteira é muito ténue. Gerir tudo por vezes é complicado.

Lida diariamente com o país e o Mundo. O que pensa do estado do nosso país? Em Portugal qual a área (justiça, saúde, economia, politica…) que se encontra mais deteriorada?
A economia sem dúvida. O mais recente plano, pacote de medidas de austeridade é disso mesmo exemplo.
A Justiça está permanentemente em crise, e não consegue ultrapassá-la. A morosidade, a elevadissima produção legislativa, a troca de acusações entre operadores judiciários...não têm ajudado a credibilizar a justiça.Credibilização que também tem afectado a política...
Quanto à saúde, temos excelentes recursos humanos, mas tem faltado eficácia...a lista de espera continua imensa, os meios têm melhorado, mas por vezes as dificuldades vêm ao de cima...

Qual foi a noticia que mais lhe custou dar?
Não consigo individualizar, escolher uma. Há situações que me comovem bastante. Acidentes, morte, sofrimento, injustiça, principalmente se atingem crianças , são difíceis de relatar.

O assunto que actualmente está em voga é o julgamento do processo Casa Pia. Não acha que existem demasiadas contradições no processo?
Tal como toda a gente, e penso que até o próprio colectivo, considero que foi um julgamento demasiado moroso, que acabou por punir severamente todos os envolvidos.

No meio de uma entrevista nunca lhe apeteceu desatar a rir à gargalhada? Qual a situação mais caricata que lhe aconteceu em directo?
A primeira situação em que não consegui controlar o riso, foi na RTPN. Tinha de passar o jornal para a colega do Porto e não conseguia...quando estava quase , voltava a não conseguir. Chorei verdadeiramente a rir...tudo por causa do Bush que resolveu "salvar" dois perús da ída ao forno no dia de Acção de Graças. Os perús antes de írem para o chamado "parque das frigideiras" andaram á solta na Casa Branca...foi lindo! Não resisti!
Não satisfeita, dias depois voltei a rir à gargalhada, quando estava a ler um texto sobre imagens que mostravam uma perseguição policial nos Estados Unidos. O carro onde seguia o criminoso foi-se literalmente desfazendo. Primeiro acho que perdeu o pára-choques, depois uma porta, depois outra...a coisa estava de tal maneira feia, que o criminoso parou o carro e entregou-se!

Numa breve pesquisa pela internet para preparar a entrevista deparei-me com este excerto "Também acho que a CRISTINA ESTEVES é das melhores apresentadoras da tv! Dá as notícias de uma forma calma, graciosa e agradável de se ver e ouvir! Além, claro está, de ser uma mulher linda! Merecia, de longe, já estar no 1º canal". Que observação faz a este comentário?
É bom sabermos que gostam daquilo que fazemos. É recompensador.

Em termos profissionais tem algum sonho que queira muito concretizar?
Não propriamente. Quero "apenas" agarrar o melhor que souber e puder as oportunidades que me ofereçam.

Perguntas Rápidas:
Hobbies:Correr atrás dos meus 3 filhos...(11 anos, 7 anos e 10 meses).
Livro preferido:Tenho vários livros que por uma razão ou outra me tocam. Por isso, costumo dizer que se calhar o meu preferido é o que estou a ler. E nesta altura é "O Livro" de José Luís Peixoto.
Filme preferido:"Voando sobre um ninho de cucus", é um clássico, mas tenho muitos preferidos...
Teatro, televisão ou cinema? Para trabalhar, sem dúvida a televisão. Mas adoro ver um bom filme( os últimos que vi, confesso que eram infantis...)
Figura Portuguesa que mais admira:Também aqui não consigo escolher um nome. Há várias personalidades, entre políticos, escritores, poetas, músicos,desportistas,monarcas...que admiro , pelo que fizeram na sua época, outros pelo que ainda fazem.
Jornalista de referência: Aqueles que me ensinam.